Rubens Amador

Do meu tempo de recruta (parte 2, final)

Rubens Amador
Jornalista

Eu trabalhava, por ter escolaridade, na Seção de Comando e Serviços. Certo dia, estava trabalhando no Cassino dos Oficiais, exatamente por ocasião de uma visita do general Osvino Ferreira Alves, então comandante da Segunda Região Militar. Executando minha tarefa, ouvia os oficiais falando. Naquela época o getulismo, o PTB e o "queremismo" estavam em ebulição e testemunhei que tal situação política já incomodava a oficialidade em geral, pois a alta oficialidade falava abertamente que temia os "subversivos" e os "populistas". Ali, parece-me hoje, que a semente de 1964 começava a ser lançada.

Ouvi dos lábios do então coronel Arthur da Costa e Silva, futuro presidente e nosso comandante no ano em que servi, a afirmação de que "precisamos acabar com o 'queremismo' e o PTB!". Percebo hoje que aquele pensamento perdurou até a revolução de 64, quando o agora general Costa e Silva assumiu o poder em 1967, exatamente 20 anos depois de falar o que ouvi naquele distante dia no Cassino dos Oficiais. Ele foi um dos principais articuladores da revolução. Foi o segundo presidente daquele movimento.

O ex-presidente morou em Pelotas quando comandou o nosso 9* Regimento de Infantaria, no ano em que servi ao Exército. Morava no Edifício Ribas, com dona Yolanda, sua esposa, e seu filho único, o então aspirante Álcio, que se tornou coronel em 2008.

Nossa instrução militar de então era toda ela ministrada pelos moldes militares franceses. Até o capacete que usávamos era exatamente igual aos que os soldados franceses também usavam. Tenho saudade daquele tempo. Lá aprendi a respeitar a autoridade com sobranceria. Digo e não nego que o serviço militar daquele época era de primeira linha e realmente ensinava ao soldado as tarefas militares. Inclusive conhecíamos os toques do clarim que davam as ordens de forma geral. Meu certificado de reservista de primeira categoria está assinado pelo então coronel Arthur da Costa e Silva que foi meu comandante em todo ano de 1947 e que em 1967 foi eleito presidente da discutida revolução de 64. O terrível AI-5 custou-lhe a vida!

Tenho saudades da caserna. Acho que ela também gostou de mim, pois no boletim diário de 02/09/47 saiu um elogio ao soldado 285, que era eu, dizendo o seguinte: "Sd. 285, Rubens Amador, da Cia. C.S. (Comando e Serviço). Disciplinado, trabalhador, faz jus aos meus agradecimentos. (Individual). João José Vieira, Ten. Cel. Sub-Cmt." E guardo ainda, com orgulho, uma declaração não pedida do nosso Exército que diz: "Declaração. Declaro a quem interessar possa que o jornalista Rubens Amador, identidade XXXX [números suprimidos], recebeu em 9 de janeiro de 1981 o título de Amigo e Colaborador do 9º Batalhão de Infantaria Motorizado, Regimento Tuiuti, tendo em vista os bons serviços prestados em prol desta Unidade Militar e do Exército Brasileiro. Pelotas, 16 de outubro de 1997. Ten.Cel. Inf. Comandante do 9º BIMtz."

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